30 de dezembro de 2005

Podemos ficar sentados a noite inteira
à espera de um sinal que nunca chega,
podemos num desespero sem nome perder
o gosto de tudo, enquanto o eu permanece
brilhante, estupidamente brilhante,
a sussurrar-nos ao ouvido a desgraça;
podemos, numa lufa-lufa, ir de filme
em filme, de livro em livro, como quem
sem terra procura uma casa, um lugar
a que possa chamar seu, onde tenha os seus
pertences e tempo para rir e tempo para
se aborrecer. Podemos ter pena de nós próprios,
podemos viver.


*Além dos sentidos comuns, poderes usa-se nos Açores como sinónimo de muito.


Carlos Bessa, Em Partes Iguais, Lisboa, Assírio & Alvim, 2004

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2 comentários:

Calvin disse...

Que coisa deliciosa. :o)

Um 2006 com tudo de bom. :o)

Graça disse...

Um 2006 com poderes (ou mistérios, como também se diz) de coisas boas para ti também. E que o Calvin, que é tão "requinho", se mantenha humoroso e popular. Mas também espero que que haja algumas coisas que te "inteniquem", de modo a teres matéria para escrever... ("Intenicar", sim, é verdadeiramente delicioso e sem sinónimos- aborrecer, mexer com os nervos,irritar não são bem o mesmo)