8 de maio de 2008



Cantiguinha

Meus olhos eram mesmo água,
— te juro —
mexendo um brilho vidrado,
verde-claro, verde-escuro.

Fiz barquinhos de brinquedo,
— te juro —
fui botando todos eles
naquele rio tão puro.

Veio vindo a ventania,
— te juro —
as águas mudam seu brilho,
quando o tempo anda inseguro.

Quando as águas escurecem,
— te juro —
todos os barcos se perdem,
entre o passado e o futuro.

São dois rios os meus olhos,
— te juro —
noite e dia correm, correm,
mas não acho o que procuro.

Cecília Meireles, Viagem

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