27 de outubro de 2008

Máquina de escrever de Fernando Pessoa



And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.



And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.



And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.
Dylan Thomas


25 de outubro de 2008


The Traveller




They pointed me out on the highway, and they said
'That man has a curious way of holding his head.'


They pointed me out on the beach; they said 'That man
Will never become as we are, try as he can.'


They pointed me out at the station, and the guard
Looked at me twice, thrice, thoughtfully & hard.
I took the same train that the others took,
To the same place. Were it not for that look
And those words, we were all of us the same.
I studied merely maps. I tried to name
The effects of motion on the travellers,
I watched the couple I could see, the curse
And blessings of that couple, their destination,
The deception practised on them at the station,
Their courage. When the train stopped and they knew
The end of their journey, I descended too.


John Berryman
.

23 de outubro de 2008




Amélia Pinto Pais, no seu Ao longe os barcos de flores, atribui generosamente a este blogue o prémio Dardos, gesto que, uma vez mais, agradeço. Contrariando as regras, resolvi,antes, destacar alguns blogues inactivos, dos quais tenho saudades:

asa de papel com chá

mitografias

o misantropo enjaulado

onbubilation

prazeres minúsculos

rainsong

turno da noite

vulgar de lineu




Informações sobre o Prémio Dardos:


Com o Prémio Dardos reconhecem-se os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.Ao recebermos e aceitarmos o “Prémio Dardos” devemos seguir algumas regras:


1. - Exibir a imagem do selo;


2. - Linkar o blogue que lhe atribuiu o prémio;


3. - Entregar o Prémio Dardos a quinze (15) outros blogues .

17 de outubro de 2008





Nascimento último

Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.
.
António Ramos Rosa



15 de outubro de 2008




APOSTILA

Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Mílton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!

Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos -
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.

Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...

Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...

Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!

(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?)

Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.

Álvaro de Campos

13 de outubro de 2008



33


Fácil palabra. Nunca hubo palabra
Fácil para entregar ni recibirse.
Siempre el trayecto le cortó las alas,
El aire avaro le robó matices
Y ese fervor con que la pronunciamos
Redujo la fragancia de su origen.
Aprende en ello que si amor te digo
Es más amor de lo que tú percibes:
Que te llega el reflejo y eso basta
Para que te circunde e ilumine.


Hugo Lindo



12 de outubro de 2008






Não tenho grande fé de encontrar-te
na vida eterna.
Era já problemático falar-te
na terrena.
A culpa é do sistema
das comunicações.
Descobrem-se muitas mas não aquela
que tornaria ridículas, e até inúteis,
as outras.




Eugenio Montale (Tradução de David Mourão-Ferreira)


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9 de outubro de 2008



God


God is a concept

By which we measure

Our pain

I'll say it again

God is a concept

By which we measure

Our pain


I don't believe in magic

I don't believe in I-ching

I don't believe in Bible

I don't believe in tarot

I don't believe in Hitler

I don't believe in Jesus

I don't believe in Kennedy

I don't believe in Buddha

I don't believe in Mantra

I don't believe in Gita

I don't believe in Yoga

I don't believe in kings

I don't believe in Elvis

I don't believe in Zimmerman

I don't believe in Beatles

I just believe in me

Yoko and me

And that's reality


The dream is over

What can I say?

The dream is over

Yesterday

I was the Dreamweaver

But now I'm reborn

I was the Walrus

But now I'm John

And so dear friends

You'll just have to carry on

The dream is over


John Lennon
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6 de outubro de 2008

Foto de B.Berenika




Se eu pudesse dar-te aquilo que não tenho
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo com que sonhas
e o que só por mim poderá ter sonhado


Se eu pudesse dar-te o sopro que me foge
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo que descubro
e descobrir-te o que de mim se esconde


Então serias aquele que existe
e o que só por mim poderá ter sonhado



Ana Hatherly


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4 de outubro de 2008

Dia Mundial do Animal



2 de outubro de 2008






The house was quiet and the world was calm.
The reader became the book; and summer night
Was like the conscious being of the book.
The house was quiet and the world was calm.
The words were spoken as if there was no book,
Except that the reader leaned above the page,
Wanted to lean, wanted much most to be
The scholar to whom the book is true, to whom
The summer night is like a perfection of thought.
The house was quiet because it had to be.
The quiet was part of the meaning, part of the mind:
The access of perfection to the page.
And the world was calm. The truth in a calm world,
In which there is no other meaning, itself
Is calm, itself is summer and night, itself
Is the reader leaning late and reading there.


Wallace Stevens
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