23 de maio de 2012



Foto de Mito

Segredo


                                    
É este o meu segredo -
fechar-me, calar-me, adormecer espantosamente.



Sem mover os dedos,
sem abrir os lábios,
irei devagar, mais tarde, à hora do sol que se
apaga,
à beira de um rio negro,
quando o coração pára.
Serei apenas um homem sem nome,
caminhando ao acaso, pelas ruas de uma cidade
que devora a sua luz.

Não quero ser mais nada.
Sou a estátua cega, sou de dentro, e por dentro
me perdi.



José Agostinho Baptista, Quatro Luas

21 de maio de 2012

Foto de Mito
















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e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia

                                                     Al Berto 
       

20 de maio de 2012







Decepção à regra


Sentar-me e

ver os outros passar é o

meu exercício favorito. Entretém.

Não esgota.

É gratuito. Neste meu jogo-do-não

são os outros que passam

(é aos outros que reservo a tarefa

de passar). Lavo daí os pés.

Escrevo de dentro da vida.

Pode até parecer que assim não

chego a lugar algum mas também quem

é que quer ir

ao sítio dos outros?



João Luís Barreto Guimarães