20 de setembro de 2006


Luis Cernuda (1902-1963)


Desdita

Um dia compreendeu como seus braços eram
Somente feitos de nuvens;
Impossível com nuvens abraçar até ao fundo
Um corpo, uma sorte.

A sorte é redonda e conta lentamente
As estrelas do estio.
Fazem falta uns braços seguros como o vento,
E como o mar um beijo.

Mas ele como seus lábios,
Com seus lábios não sabe dizer senão palavras;
Palavras até ao tecto,
Palavras até ao solo,
E seus braços são nuvens que transformam a vida
Em ar navegável.

Luis Cernuda (tradução de João Emanuel Diogo)


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1 comentário:

Graça disse...

Gosto sempre quando as pessoas sublinham o que gostaram, dá mais sentido ao que aqui se põe.

É bom ter um abraço fundo a que recorrer, nem que seja na memória...