25 de janeiro de 2008


Virginia Woolf (1882-1941)



I feel certain that I am going mad again. I feel we can't go through another of those terrible times. And I shan't recover this time. I begin to hear voices, and I can't concentrate. So I am doing what seems the best thing to do. You have given me the greatest possible happiness. You have been in every way all that anyone could be. I don't think two people could have been happier till this terrible disease came. I can't fight any longer. I know that I am spoiling your life, that without me you could work. And you will I know. You see I can't even write this properly. I can't read. What I want to say is I owe all the happiness of my life to you. You have been entirely patient with me and incredibly good. I want to say that - everybody knows it. If anybody could have saved me it would have been you. Everything has gone from me but the certainty of your goodness. I can't go on spoiling your life any longer.
Virginia Woolf, carta a Leonard Woolf

5 de janeiro de 2008

Devem os blogues ter restrições?

Achei este questionário verdadeiramente suculento e não resisti a dar as minhas (muito discutíveis) respostas.

Em relação às restrições, depende de onde está alojado o blogue. O Blogger, por exemplo, tem algumas em relação ao conteúdo divulgado (http://www.blogger.com/terms.g). Sendo os blogues um espaço de liberdade por excelência, cabe a cada um gerir o seu como entender, e implementar as restrições que considerar ajustadas. Os visitantes têm, naturalmente, direito à liberdade de opinião, mas têm também de respeitar a liberdade do autor do blogue que tem, igualmente, o direito de definir o formato que lhe apetecer, de acordo, bem entendido, com os termos de serviço.
O critério das restrições é simples: o autor do blogue decide. É certo que os visitantes têm direito à livre expressão das suas ideias, mas também é certo que os autores têm o direito de não querer saber a opinião dos outros. A liberdade tem destas coisas. Pode apetecer a um mortal qualquer escrever algo ou citar alguém, pelo simples desejo de partilha, sem que venha outra criatura dar palpites, conselhos edificantes, deixar beijinhos e smileys. Bloquear os comentários é um direito que lhe assiste. Do mesmo modo, pode apetecer a outro mortal auscultar opiniões, suscitar o debate, pelo que, neste caso, permitindo os comentários, terá de se sujeitar às opiniões mais variadas, concorde ou não com elas. Também lhe assiste o direito de apagar comentários que considere ofensivos a si ou a terceiros, muito embora, por uma questão de coerência, as pessoas raramente o façam, preferindo responder aos mesmos.
Os blogues devem servir para o que os gestores dos mesmos quiserem. Se me apetecer mostrar fotos de bijuteria, de rendas e bordados, de criancinhas, de animaizinhos, do diabo que me carregue, mostro. Se preferir um blogue de debate sobre a actualidade política, pois crio-o. Se quiser apresentar narrativas (reais ou fictícias, mais ou menos escaldantes), por que não fazê-lo? Se quiser escrever umas baboseiras poéticas, também ninguém mo pode impedir. Se quiser comentar os acontecimentos desportivos, contar anedotas, dissertar sobre o tempo, a moda, a sociedade, o número de vezes que o homem português ajeita diariamente as partes baixas, o sentido da existência, as moscas, as artes plásticas, o aquecimento global, o canto gregoriano,ou cinema búlgaro, posso perfeitamente dar início a um blogue específico. Ou vários. Ou tratar todos esses temas no mesmo blogue. Quem não gostar do formato ou do conteúdo tem bom remédio – não me visite. Não darei pela sua falta. Se, por masoquismo, teimar em visitar-me e a manifestar o seu desagrado pela forma como me expresso ou como o blogue está estruturado, há-de também (nada mais justo) sujeitar-se à minha opinião ou à minha indiferença. Ao contrário de jornais e revistas, que, de algum modo, sentem a necessidade de agradar aos leitores para vender, os blogues não precisam disso, daí também o seu interesse. Há quem se avalie pelo número de visitas e comentários. Há quem os ignore. E há quem veja um blogue como uma janela por onde atira palavras (pérolas ou lixo, tanto faz, suas ou alheias, tanto faz) sem querer mais nada além disso. Os blogues servem para muita coisa, graças a Deus! Se fosse apenas para "debate de ideias e contraponto de argumentos", isso seria muitíssimo redutor, com blogues semi-clonados uns dos outros, todos com o mesmo formato, todos muito dispostos a expressar a sua sagrada opinião sobre tudo. E sempre que alguém surgisse com um blogue diferente, a blogosfera caía-lhe em cima: “Não, não, os blogues são todos para debate de ideias e contraponto de argumentos!”, “Isso aí o que é? Um poema de Pessoa? Mas enlouqueceste ou quê? Os blogues são para debate de ideias e contraponto de argumentos!”.
Penso que, e no âmbito ainda dessa liberdade de expressão a que se alude no questionário, na blogosfera cabem os blogues para "debate de ideias e contraponto de argumentos" e os que servem para exercícios de ego (de acordo com a divisão apresentada) e devo dizer que os últimos são os mais interessantes, porque há egos fabulosos por aí que me tem agradado imenso descobrir, bastante mais do que as opiniõezinhas pedantes e requentadas de muito boa gente. Egos que se manifestam com as suas palavras, com as palavras de outros, com fotos, com vídeos, com música, em prosa em verso, diariamente, raramente, autobiográficos, fictícios, lacónicos, torrenciais, sóbrios, exuberantes, melancólicos, hilariantes, eu sei lá...
Quanto aos nicknames e afins, em nome da tal liberdade, não vejo porque terá alguém de ser forçado a usar sempre o seu santo nome de baptismo, e também não vejo por que não usá-lo. O que mais me custa ver, sinceramente, é que uma coisa ou outra incomode seja quem for, a ponto de se falar em personalidades múltiplas, o que é algo perfeitamente absurdo. Um nick é uma forma de identificação, e toda a gente sabe que tanto pode como não pode ser o nome real. Uma criatura que tenha, como eu, o banalissimo nome de Ana (na blogosfera haverá umas quinhentas mil), pode, com certeza, optar por um sinónimo que evite confusões sem que a acusem de ter múltipla personalidade, julgo eu (eu, Ana, eu, Graça, etc.). E embora a heteronímia só seja concedida aos que roçam a genialidade ou a loucura, é de louvar os que conseguem multiplicar-se, ou os que têm o engenho para se projectar noutras personagens. Tal como é de louvar quem opta por ser "quem não pode deixar de ser" (sim, sim, era - desgraçada de mim -uma citação de Pessoa, o que, no contexto, é um mau sintoma). São opções. Todas viáveis, todas aceitáveis.
Um texto deixa de ser nosso quando é público? Parcialmente, como é óbvio. Mas, se ofender certos membros do governo, será só do autor, que terá de responder por ele em tribunal, por muito que outros o tenham aplaudido e citado... O que a pergunta quer, de facto, dizer é que, a partir do momento em que o texto é divulgado, quem o escreveu tem de sujeitar-se a críticas, citações, ilustrações, apropriações... – e sem refilar! Estivesse calado! É verdade, infelizmente, e é por isso que muita gente desiste de divulgar seja o que for. Mesmo que, num blogue, o administrador bloqueie os comentários, outro caramelo qualquer pode sempre, no seu próprio blogue ou noutro espaço qualquer, desancar ou homenagear o post alheio e criar até um link para o dito. A partir do momento em que uma pessoa escreve uma palavra e a torna pública, tem de estar preparada para a ver citada numa moldura de lacinhos cor-de-rosa e com borboletas virtuais à volta ou para a ver treslida, desvirtuada, traduzida – ou com outro nome a assiná-la.
Resta-me agradecer ao autor do questionário a oportunidade de lhe responder e de lhe provar que não tenho qualquer receio de me ver ao espelho da minha própria escrita - tenho, sim, o direito de não o fazer, do mesmo modo que ele terá o direito de me criticar.