4 de dezembro de 2006


Rainer Maria Rilke (1875-1926)



Antecipa-te a toda a despedida, como se ela te ficasse
já para trás, como o inverno que está a partir.
Pois entre invernos há um tão sem-fim inverno
que, sobre-hibernando-o, o teu coração sobreviverá.

Sê sempre morto em Eurídice - , mais cantante sobe,
Mais celebrante sobe e volta à pura relação.
Sê aqui, entre os efémeros, no reino do declínio,
Sê cristal tininte que já no tinido se quebrou.

Sê – e sabe ao mesmo tempo a condição do não-ser,
A infinda razão do teu íntimo vibrar
Pra a cumprires totalmente esta única vez.

Às reservas usadas, como às surdas e mudas,
Da natureza plena, às somas incontáveis
Soma-te a ti com júbilo e destrói o número.


Rainer Maria Rilke, Sonetos a Orfeu (tradução de Paulo Quintela)

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3 comentários:

Nuno disse...

este texto, tanto, entre tantos de um poeta maior.

marta (doavesso) disse...

Graça, vim deixar-te um beijo e saudades.

Graça disse...

Gostava de poder ler Rilke na língua original, seria talvez outro poeta, como o é Rilke lido em inglês (o que prefiro) ou francês.
É precisamente isso, Nuno, e a sensação de que nunca o hei-de ler "todo"...

Que bom poder ler-te de novo, Marta! O dia 15 está próximo, felizmente...

Beijinho com saudades!