28 de setembro de 2008






Uma palavra sobre a tarde

Começas a dobrar os calções, a camisa.
As sandálias guardam,
como um cão, as sombras.
A água jorra da fonte e o clarão da manhã cai
sobre as cadeiras da varanda.
Os frutos, na relva húmida, são as dispersas maçãs
dos teus gestos.
Os barcos ainda não partiram.
Nem o oiro dos teus cabelos se agita
com a brisa triste de setembro.
Há ainda uma guitarra e uma festa
quando cantas.
O sol, essa lâmina agora cega,
rasga-te as vestes,
o linho e a seda da loucura.
Partir é um regresso
à noite outonal,
ao cair lento das folhas,
ao olhar que se dobra
com o alto trigo da tarde
até ao imenso crepúsculo
das últimas palavras.


Eduardo Bettencourt Pinto

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