18 de abril de 2006


Antero de Quental (1842-1891)





A Germano Meireles

Só males são reais, só dor existe:
Prazeres só os gera a fantasia;
Em nada[, um] imaginar, o bem consiste,
Anda o mal em cada hora e instante e dia.

Se buscamos o que é, o que devia
Por natureza ser não nos assiste;
Se fiamos num bem, que a mente cria,
Que outro remédio há [aí] senão ser triste?

Oh! Quem tanto pudera que passasse
A vida em sonhos só. E nada vira...
Mas, no que se não vê, labor perdido!

Quem fora tão ditoso que olvidasse...
Mas nem seu mal com ele então dormira,
Que sempre o mal pior é ter nascido!

Antero de Quental

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3 comentários:

Mito disse...

De Antero, nunca se poderá dizer que melhor seria não ter nascido...
Sorte a de quem tem o privilégio de nele morar e trabalhar...

Graça disse...

Como conheceste esse privilégio, vou concordar contigo, embora, muitas vezes, não dê por ele - pelo privilégio...

Mito disse...

O meu privilégio esteve mais ligada à convivência com algumas ilustres pessoas, que, ora, encontro no éter.