20 de outubro de 2006


Mario Luzi (1914-2005)

Ano

Benéficas agora, ainda tranquilas
As cepas, as uvas
A vinha do enforcado. O Outro
É ainda o desconhecido, o Outro estava, está sempre
Fechado neste céu opaco
Onde a luz avinhada
É cada vez mais frouxa
- e o grito do tentilhão já é só gelo.

Aqui, nestes trabalhos calmos,
Claros, aqui prossegue e arde
O todo que não tenho
Mas tenho que perder.
Os tempos que se foram,
O tempo que aí vem
Arremetem –
Sem saber como, cheguei aqui,
Espero, ardo, avanço por
Dias e dias inacessíveis
E torno-me sem fim o que já sou,
A repousar nesta luz vazia.

Mario Luzi

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3 comentários:

nuno disse...

"Espero, ardo, avanço por
Dias e dias inacessíveis
E torno-me sem fim o que já sou,
A repousar nesta luz vazia"

não conhecia Mario Luzi, mas achei este poema muito, muito bonito... sobretudo estas palavras ficaram, assim, a "repousar nesta luz vazia"...

Graça disse...

Obrigada, Nuno. Também gostei das palavras que seleccionaste, provavelmente, foram elas que justificaram a "coincidência".

Também não conheço muito bem Mario Luzi - se dominasse o italiano, sempre podia ler muita coisa dele que pressinto que é bonita. É verdade que a beleza talvez seja só um pressentimento, mas...

firmina12 disse...

e lá vão sempre nascendo pessoas