Às vezes, encontro-me nas palavras dos outros. Mais raramente, nas minhas. Por pura coincidência. Em pura coincidência.
26 de dezembro de 2008
entrevista
[...]
mudo todos os dias de roupa inte
rior. sim, claro que tenho orgulho ni
sso. porquê? porque é higiénico, qu
e é que quer dizer higiénico? lim
po, limpo, mas a pergunta é absurd
a, totalmente absurda, não tem res
posta, é totalmente absurda, lamen
to ter de dizê-lo, mas estas pergu
ntas todas são muito estranhas.
qual é a minha opinião acerca d
este livro? não sei, não o li. se g
ostaria de o ler? não sei, precisa
ria de lê-lo primeiro, para respo
nder a essa questão, mas acho tud
o isto muito duvidoso, estas ques
tões, estes temas, tudo isto, não s
ei, não me está a agradar nada,
de resto são horas de me retirar.
uma última declaração? com todo o
gosto: não tenho dúvidas de que
nada nos impede de continuarmos
como até aqui, e é isso que me dá
confiança no futuro, pois o futuro
só é possível se não deixarmos de
ser o que sempre fomos no passado.
Alberto Pimenta
.
26 de novembro de 2008
23 de novembro de 2008
Elogio da Distância
Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.
Aqui, coração
que andou entre os homens, arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:
Mais negro no negro, estou mais nu.
Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.
Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.
Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.
Na fonte dos teus olhos
um enforcado estrangula o baraço.
Paul Celan, Papoila e Memória
Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno
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14 de novembro de 2008
7 de novembro de 2008
É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de actos,
a ideia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
Cecília Meireles
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4 de novembro de 2008
perched on the ledge of an open window chatting with friends between classes;
a teacher passes and chides her, Be careful, you might fall, almost banteringly chides her, You might fall,
and the young woman, eighteen, a girl really, though she wouldn't think that,
as brilliant as she is, first in her class, and Beautiful, too, she's often told,
smiles back, and leans into the open window, which wouldn't even be open if it were winter, if it were winter someone would have closed it (Close it!),
leans into the window, farther, still smiling, farther and farther,
though it takes less time than this, really an instant, and lets herself fall. Herself fall.
A casual impulse, a fancy, never thought of until now, hardly thought of even now... No, more than impulse or fancy, the girl knows what she's doing,
the girl means something, the girl means to mean, because, it occurs to her in that instant, that beautiful or not, bright yes or no,
she's not who she is, she's not the person she is, and the reason, she suddenly knows,
is that there's been so much premeditation where she is, so much plotting and planning,
there's hardly a person where she is, or if there is, it's not her, or not wholly her,
it's a self inhabited, lived in by her, and seemingly even as she thinks it she knows what's been missing: grace, not premeditation but grace,
a kind of being in the world spontaneously, with grace.
Weightfully upon me was the world.
Weightfully this self which graced the world yet never wholly itself.
Weightfully this self which weighed upon me,
the release from which is what I desire and what I achieve.
And the girl remembers, in this infinite instant already so many times divided, the sadness she felt once, hardly knowing she felt it, merely to inhabit herself.
Yes, the girl falls, absurd to fall, even the earth with its compulsion to take unto itself all that falls must know that falling is absurd, yet the falling girl isn't myself,
or she is myself, but a self I took of my own volition unto myself.
Forever. With grace. This happened.
C. K. Williams
1 de novembro de 2008
Esta ideia nem parece minha, mas aconteceu-me agora mesmo, depois de assistir a uma cena esquisita aqui dentro de minha casa.
Na minha casa acontecem muitas cenas esquisitas, vais ficar a conhecê-las todas, portanto, aguenta-te e observa.
Está ali uma mulher a chorar, tem que se lhe diga, mas já revelo quem ela é. Agora quero que saibas quem eu sou.
Chamo-me Maria Ana. Isso mesmo, Maria Ana e não Mariana, há muita gente que se engana e eu passo a vida a corrigir. O nome foi escolhido pela minha avó Lupita, que se chama na realidade Guadalupe, é um bocado gorda, um grande bocado louca e ainda por cima é uma espanhola que fala muito. Vive em Madrid ao lado de um museu que se chama Prado e quando eu era pequena julgava que era um museu sobre vacas e ovelhas, pois essas andam sempre no prado, com as moscas, os cães e os pastores, e afinal é um museu dedicado a obras de pintura, é mesmo uma das maiores galerias do Mundo e expõe obras que foram pintadas entre os séculos XV e XIX, fui lá com a minha avó Lupita que gosta muito de ir a toda a parte e adorei e conheci Goya, as pinturas dele - e Goya é um dos maiores pintores de Espanha e isso.
Chamo-me Maria Ana - e não Mariana. Repito, porque quase toda a gente troca o meu nome.
27 de outubro de 2008
And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.
And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.
And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.
25 de outubro de 2008
The Traveller
They pointed me out on the highway, and they said
'That man has a curious way of holding his head.'
They pointed me out on the beach; they said 'That man
Will never become as we are, try as he can.'
They pointed me out at the station, and the guard
Looked at me twice, thrice, thoughtfully & hard.
I took the same train that the others took,
To the same place. Were it not for that look
And those words, we were all of us the same.
I studied merely maps. I tried to name
The effects of motion on the travellers,
I watched the couple I could see, the curse
And blessings of that couple, their destination,
The deception practised on them at the station,
Their courage. When the train stopped and they knew
The end of their journey, I descended too.
John Berryman
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23 de outubro de 2008
Amélia Pinto Pais, no seu Ao longe os barcos de flores, atribui generosamente a este blogue o prémio Dardos, gesto que, uma vez mais, agradeço. Contrariando as regras, resolvi,antes, destacar alguns blogues inactivos, dos quais tenho saudades:
asa de papel com chá
mitografias
o misantropo enjaulado
onbubilation
prazeres minúsculos
rainsong
turno da noite
vulgar de lineu
Informações sobre o Prémio Dardos:
Com o Prémio Dardos reconhecem-se os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.Ao recebermos e aceitarmos o “Prémio Dardos” devemos seguir algumas regras:
1. - Exibir a imagem do selo;
2. - Linkar o blogue que lhe atribuiu o prémio;
3. - Entregar o Prémio Dardos a quinze (15) outros blogues .
17 de outubro de 2008
Nascimento último
Como se não tivesse substância e de membros apagados.
15 de outubro de 2008
Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Mílton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos -
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.
Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...
Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...
Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!
(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?)
Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.
Álvaro de Campos
13 de outubro de 2008
33
Fácil palabra. Nunca hubo palabra
Fácil para entregar ni recibirse.
Siempre el trayecto le cortó las alas,
El aire avaro le robó matices
Y ese fervor con que la pronunciamos
Redujo la fragancia de su origen.
Aprende en ello que si amor te digo
Es más amor de lo que tú percibes:
Que te llega el reflejo y eso basta
Para que te circunde e ilumine.
Hugo Lindo
9 de outubro de 2008
God
God is a concept
By which we measure
Our pain
I'll say it again
God is a concept
By which we measure
Our pain
I don't believe in magic
I don't believe in I-ching
I don't believe in Bible
I don't believe in tarot
I don't believe in Hitler
I don't believe in Jesus
I don't believe in Kennedy
I don't believe in Buddha
I don't believe in Mantra
I don't believe in Gita
I don't believe in Yoga
I don't believe in kings
I don't believe in Elvis
I don't believe in Zimmerman
I don't believe in Beatles
I just believe in me
Yoko and me
And that's reality
The dream is over
What can I say?
The dream is over
Yesterday
I was the Dreamweaver
But now I'm reborn
I was the Walrus
But now I'm John
And so dear friends
You'll just have to carry on
The dream is over
John Lennon
6 de outubro de 2008
Se eu pudesse dar-te aquilo que não tenho
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo com que sonhas
e o que só por mim poderá ter sonhado
Se eu pudesse dar-te o sopro que me foge
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo que descubro
e descobrir-te o que de mim se esconde
Então serias aquele que existe
e o que só por mim poderá ter sonhado
Ana Hatherly
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4 de outubro de 2008
2 de outubro de 2008
The house was quiet and the world was calm.
The reader became the book; and summer night
Was like the conscious being of the book.
The house was quiet and the world was calm.
The words were spoken as if there was no book,
Except that the reader leaned above the page,
Wanted to lean, wanted much most to be
The scholar to whom the book is true, to whom
The summer night is like a perfection of thought.
The house was quiet because it had to be.
The quiet was part of the meaning, part of the mind:
The access of perfection to the page.
And the world was calm. The truth in a calm world,
In which there is no other meaning, itself
Is calm, itself is summer and night, itself
Is the reader leaning late and reading there.
28 de setembro de 2008
Uma palavra sobre a tarde
Começas a dobrar os calções, a camisa.
As sandálias guardam,
como um cão, as sombras.
A água jorra da fonte e o clarão da manhã cai
sobre as cadeiras da varanda.
Os frutos, na relva húmida, são as dispersas maçãs
dos teus gestos.
Os barcos ainda não partiram.
Nem o oiro dos teus cabelos se agita
com a brisa triste de setembro.
Há ainda uma guitarra e uma festa
quando cantas.
O sol, essa lâmina agora cega,
rasga-te as vestes,
o linho e a seda da loucura.
Partir é um regresso
à noite outonal,
ao cair lento das folhas,
ao olhar que se dobra
com o alto trigo da tarde
até ao imenso crepúsculo
das últimas palavras.
Eduardo Bettencourt Pinto
15 de setembro de 2008
Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!
Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:
Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!
Travam-se gosto e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
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13 de setembro de 2008
7 de setembro de 2008
Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...
Em redor do teu vulto é como um véu!
¿Quem as esparze - quanta flor! -, do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?
Camilo Pessanha
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4 de setembro de 2008
1 de setembro de 2008
................................ porque se alguma coisa os
anos me ensinaram foi a desconfiar das emoções grandiosas, dos sentimentos grandiosos, das palavras grandiosas, culpabilidade, generosidade, arrependimento, honra, orgulho, coragem, sacrifício, que ocultam pequeninos interesses viscosos como egoísmo, medo, inveja, estupidez, preguiça, eu para a Raquel
.................................— Tretas
a rever o Álvaro a fugir-lhe,a sacudir os beijos, a não falar com ela, a erguer as sobrancelhas ao céu, a fitar-lhe com desgosto as farripas, os bibelots, os vestidos, o Álvaro que queria o divórcio por ter arranjado uma mulher a dias mais competente e uma enfermeira melhor num apartamento sem máscaras nem litografias sem palhaços, o Álvaro que nem se devia recordar do filho porque os homens não suportam o sofrimento ou o passado, os homens, felizmente para eles, esquecem, e somos nós que não esquecemos, que conservamos tudo na memória, que nos recordamos como eu recordo a romãzeira, a estrada do Cacuaco e o quintal de Luanda, como eu recordo o meu pai no sofá de Campolide, debaixo do quadro dos cavalos, sem se queixar das dores, e a Raquel à procura dos cigarros, distraída da chuva
................................— Meteu-se-lhe na cabeça que Carlos Gardel está vivo em Santo António dos Cavaleiros, meteu-se-lhe na cabeça despedir-se da agência e morar com ele para lhe promover a carreira (...).
António Lobo Antunes, A Morte de Carlos Gardel
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29 de agosto de 2008
Painting by Vuillard
Two dumpy women with buns were drinking coffee
In a narrow kitchen—at least I think a kitchen
And I think it was whitewashed, in spite of all the shade.
They were flat brown, they were as brown as coffee.
Wearing brown muslin? I really could not tell.
How I loved this painting, they had grown so old
That everything had got less complicated,
Brown clothes and shade in a sunken whitewashed kitchen.
But it’s not like that for me: age is not simpler
Or less enjoyable, not dark, not whitewashed.
The people sitting on the marble steps
Of the national gallery, people in the sunlight,
A party of handsome children eating lunch
And drinking chocolate milk, and a young woman
Whose t-shirt bears the defiant word WHATEVER,
And wrinkled folk with visored hats and cameras
Are vivid, they are not browned, not in the least,
But if they do not look like coffee they look
As pungent and startling as good strong coffee tastes,
Possibly mixed with chicory. And no cream.
Thom Gunn
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28 de agosto de 2008
Exit
Just when hope withers, the visa is granted.
The door opens to a street like in the movies,
clean of people, of cats; except it is your street
you are leaving. A visa has been granted,
"provisionally"-a fretful word.
The windows you have closed behind
you are turning pink, doing what they do
every dawn. Here it's gray. The door
to the taxicab waits. This suitcase,
the saddest object in the world.
Well, the world's open. And now through
the windshield the sky begins to blush
as you did when your mother told you
what it took to be a woman in this life.
Rita Dove
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23 de agosto de 2008
Almost the shell of a woman after the surgeon’s knife!
Till the dawn of our wedding decennial
Found me my seeming self again.
We walked the forest together,
By a path of soundless moss and turf.
But I could not look in your eyes,
And you could not look in my eyes,
For such sorrow was ours—the beginning of gray in your hair,
And I but a shell of myself.
And what did we talk of?—sky and water,
Anything, ’most, to hide our thoughts.
And then your gift of wild roses,
Set on the table to grace our dinner.
Poor heart, how bravely you struggled
To imagine and live a remembered rapture!
Then my spirit drooped as the night came on,
And you left me alone in my room for a while,
As you did when I was a bride, poor heart.
And I looked in the mirror and something said:
“One should be all dead when one is half-dead—”
Nor ever mock life, nor ever cheat love.”
And I did it looking there in the mirror—
Dear, have you ever understood?
22 de agosto de 2008
Tú estás en ese taxi parado, sí, eres Tú
—un bulto en el crepúsculo— junto al bordillo blanco
donde se acaba el campo de enfrente o descampado.
Lo sé, aunque no te he visto (y aunque dentro del taxi
no hay nadie). Está lloviendo con fuerza. Está empezando
a oler en la ciudad a campo de muy lejos...
Y tú estás en el taxi como en una capilla
que fuera entre las hazas ermita solitaria.
(Lo sé, porque esos trigos que se iluminan, lejos...,
y ese río parado, con sus aguas crecidas
de pronto...) Llueve fuerte y estás dentro del taxi
(tal vez junto a ese chófer fatigado al volante).
Sé que dentro del taxi no hay nadie, pero huele
a lluvia de muy lejos. Suena esa luvia. Y pienso
sin ganas: ser poeta, suspender en el aire
laborioso de un día y otro día unas pocas
palabras necesarias, y quitarse de en medio.
Porque uno —su difícil vivir— ya no hace falta
si quedan las palabras. Ser poeta: orientarse,
como esa luz dudosa cruzando el descampado
y en vez de una existencia brillante, tener alma.
Por eso, algo me quito de en medio: estoy viviendo
como un taxi parado junto al bordillo blanco
(y hay un cerco de alegres sonrisas y de manos
fieles a sus celestes contactos en la sombra).
Porque Tú, el más activo —y el más ocioso— estabas
aquí, junto al farol de luz verde en la noche.
Tú, sin libros; Tú, libre con brazos, con miradas,
estabas sin testigos y medías —ocioso—
mis pasos por mi cuarto (donde caben mis años).
Y los trigos en éxtasis de Castilla la Vieja,
los ríos llameantes con sus aguas crecidas,
seguían a lo lejos relevándote (mientras
detrás de mis cristales aparece el retraso
de ese barro, esos charcos del ancho descampado,
¡yo también descampado, desterrado del campo!) Porque Tú, el más activo —y el más ocioso— estabas
aquí, junto al farol de luz verde en lan oche.
Tú, sin libros; Tú, libre con brazos, con miradas,
estabas sin testigos y medías —ocioso—
mis pasos por mi cuarto (donde caben mis años).
Y los trigos en éxtasis de Castilla la Vieja,
los ríos llameantes con sus aguas crecidas,
seguían a lo lejos relevándote (mientras
detrás de mis cristales aparece el retraso
de ese barro, esos charcos del ancho descampado,
¡yo también descampado, desterrado del campo!)
Luis Felipe Vivanco
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20 de agosto de 2008
18 de agosto de 2008
A HISTÓRIA DE UMA HISTÓRIA
Era uma vez uma história
acabava antes de começar
e começava depois do fim
os seus heróis entravam nela
depois de terem morrido
e abandonavam-na
antes de nascerem
os seus heróis falavam
de um certo mundo e de um certo céu
diziam toda a espécie de coisas
só não diziam
o que eles próprios não sabiam
que eram apenas heróis de uma história
de uma história que acaba
antes de começar
e começa
antes de acabar
Ted Hughes, O Fazer da Poesia (tradução de Helder Moura Pereira)
.
16 de agosto de 2008
Bluebird
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?
Charles Bukowski
.
15 de agosto de 2008
Tempo
Não sei se te nomeie ou nomeie o vento,
isto que passa
e procura os outros lugares onde o pólen cai.
Talvez uma colmeia confie ao seu mel o que
ficou de um ano
em que a tempestade não se fez ouvir sobre
as corolas.
O que viste antes de Setembro perdeu-se,
apagou-se,
afastou-se sem dizer nada,
como os barcos que pouco a pouco se
afastaram da nossa vida,
calados e brancos,
com as suas gaivotas de asas fechadas,
envelhecendo lado a lado, sobre o convés.
.
11 de agosto de 2008
Words For Departure
.
Nothing was remembered, nothing forgotten.
9 de agosto de 2008
Homenagem a Cesário Verde
Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas
Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
Que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!
Mário Cesariny, Pena Capital
.
8 de agosto de 2008
Brota incesantemente. A borbotones.
Son manos de vencido. Ellas debían
Pero nada aprehendieron. No eran hábiles.
Tiemblan un poco. Tiemblan asustadas.
Les sonrío a mis manos. Las levanto
José María Fonollosa, Destrucción de la mañana
1 de agosto de 2008
Nos mains au jardin
Nous avons eu cette idée
de planter nos mains au jardin
Branches des dix doigts
Petits arbres d'ossements
Chère plate-bande.
Tout le jour
Nous avons attendu l'oiseau roux
Et les feuilles fraîches
A nos ongles polis.
Nul oiseau
Nul printemps
Ne se sont pris au piège de nos mains coupées.
Pour une seule fleur
Une seule minuscule étoile de couleur
Un seul vol d'aile calme
Pour une seule note pure
Répétée trois fois.
Il faudra la saison prochaine
Et nos mains fondues comme l'eau.
Anne Hébert, Poèmes
30 de julho de 2008
The Old Stoic
Riches I hold in light esteem,
And love I laugh to scorn;
And lust of fame was but a dream
That vanish'd with the morn:
And if I pray, the only prayer
That moves my lips for me
Is, "Leave the heart that now I bear,
And give me liberty!"
Yes, as my swift days near their goal,
'Tis all that I implore:
In life and death a chainless soul,
With courage to endure.
Emily Brontë
24 de julho de 2008
The far side of your moon is black,
Yours is the great wheel of the sun
Walking in splendor through the plain
18 de julho de 2008
Memento
Like a reminder of this life
of trams, sun, sparrows,
and the flighty uncontrolledness
of streams leaping like thermometers,
and because ducks are quacking somewhere
above the crackling of the last, paper-thin ice,
and because children are crying bitterly
(remember children's lives are so sweet!)
and because in the drunken, shimmering starlight
the new moon whoops it up,
and a stocking crackles a bit at the knee,
gold in itself and tinged by the sun,
like a reminder of life,
and because there is resin on tree trunks,
and because I was madly mistaken i
n thinking that my life was over,
like a reminder of my life -
you entered into me on stockinged feet.
You entered - neither too late nor too early -
at exactly the right time, as my very own,
and with a smile, uprooted me
from memories, as from a grave.
And I, once again whirling among
the painted horses, gladly exchange,
for one reminder of life, all its memories.
Yevgeny Yevtushenko
15 de julho de 2008
13 de julho de 2008
Well, honest John, how fare you now at home?
The spring is come, and birds are building nests;
The old cock-robin to the sty is come,
With olive feathers and its ruddy breast;
And the old cock, with wattles and red comb,
Struts with the hens, and seems to like some best,
Then crows, and looks about for little crumbs,
Swept out by little folks an hour ago;
The pigs sleep in the sty; the bookman comes--
The little boy lets home-close nesting go,
And pockets tops and taws, where daisies blow,
To look at the new number just laid down,
With lots of pictures, and good stories too,
And Jack the Giant-killer's high renown.
John Clare
29 de junho de 2008
I've wiped your face off my face
28 de junho de 2008
HAVING A COKE WITH YOU
is even more fun than going to San Sebastian, Irún, Hendaye, Biarritz, Bayonne
or being sick to my stomach on the Travesera de Gracia in Barcelona
partly because in your orange shirt you look like a better happier St. Sebastian
partly because of my love for you, partly because of your love for yoghurt
partly because of the fluorescent orange tulips around the birches
partly because of the secrecy our smiles take on before people and statuary
it is hard to believe when I’m with you that there can be anything as still
as solemn as unpleasantly definitive as statuary when right in front of it
in the warm New York 4 o’clock light we are drifting back and forth
between each other like a tree breathing through its spectacles
and the portrait show seems to have no faces in it at all, just paint
you suddenly wonder why in the world anyone ever did them
I look
at you and I would rather look at you than all the portraits in the world
except possibly for the Polish Rider occasionally and anyway it’s in the Frick
which thank heavens you haven’t gone to yet so we can go together the first time
and the fact that you move so beautifully more or less takes care of Futurism
just as at home I never think of the Nude Descending a Staircase or
at a rehearsal a single drawing of Leonardo or Michelangelo that used to wow me
and what good does all the research of the Impressionists do them
when they never got the right person to stand near the tree when the sun sank
or for that matter Marino Marini when he didn’t pick the rider as carefully
as the horse
it seems they were all cheated of some marvellous experience
which is not going to go wasted on me which is why I’m telling you about it
Frank O’Hara, Selected Poems