23 de outubro de 2004


Habituei-me a que não falasses comigo
isto é
que falasses com quem me vês
de modo que
inevitavelmente
também deixei de te responder
e vou vogando pelo teu dialecto fácil
pelas palavras
cálidas
polidas
ténues
irónicas
simpáticas
monótonas
leves
divertidas
convencionais
que me estendes
palavras meio-mortas
que te devolvo numa ilusão de conversa
sem que te atrevas
naturalmente
a queimar os dedos nas sílabas de lava do que sentes
e num degelo lento
chegar até ti.

2 comentários:

SL disse...

é lindo o que escreves.
finalmente algo teu!
mas como diz o ditado, antes poucos, mas bons, né?!
é muito bom ler-te...
UM DIA DESTES VOU PLAGIAR-TE!

António disse...

Desculpe roubar-lhe este poema. É um roubo sem perdão. Mas peço-o.