Às vezes, encontro-me nas palavras dos outros. Mais raramente, nas minhas. Por pura coincidência. Em pura coincidência.
26 de fevereiro de 2005
Amin Maalouf (1949)
[...]
CORO DAS TRIPOLITANAS:
Ei-la que se deixa apanhar nas redes desse trovador
Ela canta as canções dele, ela sente-se lisonjeada
Mas que fruto pode dar o amor de longe?
Nem boa companhia, nem doce amplexo,
Nem bodas, nem terras, nem filhos,
Que fruto pode então dar o amor de longe?
Ele só vai afastar dela aqueles que cobiçam a sua mão
O príncipe de Antioquia e o antigo conde de Edessa... (sussurrando)
E mesmo, diz-se, diz-se, o filho do basileu...
UMA VOZ NA MULTIDÃO:
Vós todas que a censurais
Que vos trouxeram os vossos homens tão próximos?
Príncipes ou servos fazem de vós servas.
Quando estão perto de vós, sofreis, e quando eles se vão, sofreis também...
CLÉMENCE:
Falaste verdade, minha filha, minha amiga,
Bendita sejas! Bendita sejas!
CORO DAS TRIPOLITANAS:
Pois vós, condessa, não sofreis?
Não sofreis por estar tão longe daquele que vos ama?
Por não adivinhar no seu olhar se ele vos deseja ainda?
Não sofreis por não saber sequer como é o seu olhar?
Não sofreis por nunca poder fechar os olhos sentindo os seus braços envolver-vos e puxar-vos contra o seu peito?
Não sofreis por nunca nunca sentir a sua respiração na vossa pele?
CLÉMENCE (como que surpresa):
Não, por Nosso Senhor, eu não sofro
Talvez que um dia eu sofra, mas pela graça de Deus, não, não sofro ainda
As canções dele são mais do que carícias, e eu não sei se amaria o homem como amo o poeta
Não sei se amaria a sua voz tanto como amo a sua música
Não, por Nosso Senhor, eu não sofro
Sem dúvida sofreria se esperasse esse homem e ele não viesse
Mas eu não o espero
Por saber que lá, no país, um homem pensa em mim,
Sinto-me de repente perto das terras da minha infância.
Eu sou o ultramar do poeta e o poeta é o meu ultramar.
Entre as nossas duas margens viajam as palavras ternas
Entre as nossas duas vidas viaja uma música...
Não, por Nosso Senhor, que não sofro
Não, por Nosso Senhor, que não o espero
Não o espero...
[...]
Amin Maalouf, O Amor de Longe
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1 comentário:
nasci no mesmo dia.. :)
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