28 de setembro de 2004

COMPREENDER A MORTE
Contei a Morrie que já me sentia na fase mais descendente da vida, por muito desesperadamente que tentasse sentir-me ao de cima. (...)
Morrie via o envelhecimento numa perspectiva melhor.
- Toda esta ênfase na juventude não me convence –disse ele. –Escuta, eu sei a infelicidade que um jovem pode sentir, portanto não me digas que é assim tão bom. Todos estes miúdos que vêm até mim com as suas lutas, os seus conflitos, os seus sentimentos de desadaptação, o seu sentido de que a vida é miserável, tão má que se querem suicidar... (...)
Nunca tiveste medo de envelhecer, perguntei eu?
-Mitch, eu abraço o envelhecer.
Abraças?
- É muito simples. À medida que cresces, aprendes mais. Se ficasses pelos vinte e dois anos, serias sempre tão ignorante como eras aos vinte e dois anos. Sabes, envelhecer não é só decadência. É crescimento. É mais do que o negativo do que vais morrer, é também o positivo de que vais compreender que vais morrer, e que vives uma vida melhor por causa disso.
Sim, mas se envelhecer é tão valioso, porque é que as pessoas dizem sempre “Ah, se fosse novo outra vez”. Nunca ouves ninguém dizer “Gostava de ter sessenta e cinco anos”.
Sorriu.
- Sabes o que isso reflecte? Vidas insatisfeitas. Vidas incompletas. Vidas que não encontraram sentido. Porque se encontrares sentido na vida, não desejas voltar atrás. Queres ir para a frente. Queres ver mais, fazer mais. Estás mortinho por chegar aos sessenta e cinco.
“Ouve, tens de saber uma coisa. Todos os jovens têm de saber uma coisa. Se estiveres sempre a batalhar contra o envelhecimento, vais ser sempre infeliz, porque isso vai acontecer de qualquer maneira.
“E, Mitch?”
Baixou a voz..
- O facto é que vais mesmo acabar por morrer.

Mitch Albom, As Terças com Morrie (excerto)

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