22 de setembro de 2004

Árvore, árvore. Um dia serei árvore.
Com a maternal cumplicidade do verão.
Que pombos torcazes
anunciam.

Um dia abandonarei as mãos
ao barro ainda quente do silêncio,
subirei pelo céu,
às árvores são consentidas coisas assim.

Habitarei então o olhar nu,
fatigado do corpo, esse deserto
repetido nas águas,
enquanto a bruma é sobre as folhas

que pousa as mãos molhadas.
E o lume.

Eugénio de Andrade, Com o Sol em cada Sílaba

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