18 de dezembro de 2004

É nos actos, nos actos, frente a frente,
que os homens se conhecem
e raro nas verdades que mastigam
e divulgam no fumo das palavras.

Todavia, as palavras são os actos
mais puros dos poetas: carne viva,
sal pessoal de lágrimas ardidas
num colectivo mar que se evapora.
São também o tempero cristalino
da nascente futura, entre montanhas
Pardas.

Não me perguntes, pois, que fiz ou faço
ou quanto irei fazer (pouco, decerto,
mal cabendo num verso tão volátil!).

Mas olha-me nos olhos, firmemente,
e diz-me se te vês.

Que todo o verso é hálito comum
correndo em veias cósmicas. Poeira.
Parabólico voo. Estreita nave.
Celeste agricultura.
- De palavras.

António Luís Moita (1928)
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