Voam gaivotas rente ao chão.
Dizem que é a chuva a ir chegar.
Mas não, neste momento não:
São só gaivotas rente ao chão
Só a voar.
Assim também se há alegria
Dizem que assim que a dor que vem.
Talvez. Que importa? Se este dia
Tem aqui a sua alegria;
Que é que a dor tem?
Nada: só o rastro do futuro,
Quando vier, ficará triste.
Por ora é o dia bom e puro.
Hoje o futuro não existe.
Há um muro.
Goza o que tens, ébrio de seres!
Deixa o futuro onde ele está.
Poemas, vinho, ideais, mulheres —
Seja o que for se é o que há,
Há para o teres.
Mais tarde... Mas mais tarde sê
O que o mais tarde te for dando.
Por ora aceita, ignora e crê.
Sê rente à terra, mas voando,
Como a gaivota é.
Fernando Pessoa
Nota: Nem me atrevo a dizer que este é, possivelmente, o poema de Pessoa de que mais gosto, até porque talvez não seja verdade. Até porque posso reler a qualquer altura um outro poema e "lê-lo" pela primeira vez - e ser esse (re)lido o eleito. E por que é que se há-de ter um poema preferido de Pessoa?
.
Às vezes, encontro-me nas palavras dos outros. Mais raramente, nas minhas. Por pura coincidência. Em pura coincidência.
31 de março de 2005
29 de março de 2005
26 de março de 2005
Robert Frost (1874-1963)
ACQUAINTED WITH THE NIGHT
I have been one acquainted with the night.
I have walked out in rain -- and back in rain.
I have outwalked the furthest city light.
I have looked down the saddest city lane.
I have passed by the watchman on his beat
And dropped my eyes, unwilling to explain.
I have stood still and stopped the sound of feet
When far away an interrupted cry
Came over houses from another street,
But not to call me back or say good-bye;
And further still at an unearthly height,
O luminary clock against the sky
Proclaimed the time was neither wrong nor right.
I have been one acquainted with the night.
Robert Frost
..
25 de março de 2005
Espero por ti no fim do mundo
ou no princípio dele,
enquanto as sementes secam ao sol
que não nasce
e as palavras se perdem num verso
sem peso nem medida.
És a que não chega:
promessa do amor que enche
os espelhos, brilho
da treva que assombra
o cristal.
E quando olho pela janela,
como se viesses do fundo da rua,
só a tarde dobra essa esquina
que te viu partir
com os olhos húmidos da manhã nua.
Sombra, cinzas e ruína
chegam em cada primavera; mas tu
só voltas donde não sei,
quando não espero
e onde não estou.
Nuno Júdice, Pedro Lembrando Inês
.
ou no princípio dele,
enquanto as sementes secam ao sol
que não nasce
e as palavras se perdem num verso
sem peso nem medida.
És a que não chega:
promessa do amor que enche
os espelhos, brilho
da treva que assombra
o cristal.
E quando olho pela janela,
como se viesses do fundo da rua,
só a tarde dobra essa esquina
que te viu partir
com os olhos húmidos da manhã nua.
Sombra, cinzas e ruína
chegam em cada primavera; mas tu
só voltas donde não sei,
quando não espero
e onde não estou.
Nuno Júdice, Pedro Lembrando Inês
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23 de março de 2005
Escrevo algumas palavras. Quase sempre as mesmas.
Certa de que podes estar em cada uma delas: melodia, rua, talvez, regresso.
Ergo-te do silêncio, sílaba a sílaba, como se os sons falassem.
Como se escutasses.
Como se não soubesse que nunca ouvirias sorriso, poema, manhã, Amor.
Como se não fossem um sussurro que finges perceber
Delicadamente.
Certa de que podes estar em cada uma delas: melodia, rua, talvez, regresso.
Ergo-te do silêncio, sílaba a sílaba, como se os sons falassem.
Como se escutasses.
Como se não soubesse que nunca ouvirias sorriso, poema, manhã, Amor.
Como se não fossem um sussurro que finges perceber
Delicadamente.
21 de março de 2005
Teorema
Imagem congelada: Big-Bang.
Retrato de metáfora. Teorema.
E gene a gene o gráfico do sangue.
Mas o princípio e o fim só o poema.
Explosão. Elipse. Universal redoma.
E o cromossoma. A carta. A geografia
do humano continente do genoma.
Mas o princípio e fim só poesia.
Quem fotografa o antes de ter sido?
E quem desenha o mapa do acabar?
Falta o porquê o de onde o para onde.
Morreremos de nunca ter sabido
morreremos de tanto perguntar.
E só o poema às vezes nos responde.
Manuel Alegre, Sonetos do Obscuro Quê
Porque hoje é o Dia Mundial da Poesia
Imagem congelada: Big-Bang.
Retrato de metáfora. Teorema.
E gene a gene o gráfico do sangue.
Mas o princípio e o fim só o poema.
Explosão. Elipse. Universal redoma.
E o cromossoma. A carta. A geografia
do humano continente do genoma.
Mas o princípio e fim só poesia.
Quem fotografa o antes de ter sido?
E quem desenha o mapa do acabar?
Falta o porquê o de onde o para onde.
Morreremos de nunca ter sabido
morreremos de tanto perguntar.
E só o poema às vezes nos responde.
Manuel Alegre, Sonetos do Obscuro Quê
Porque hoje é o Dia Mundial da Poesia
19 de março de 2005
As you set out for Ithaka
hope your road is a long one,
full of adventure, full of discovery.
Laistrygonians, Cyclops,
angry Poseidon-don't be afraid of them:
you'll never find things like that on your way
as long as you keep your thoughts raised high,
as long as a rare excitement
stirs your spirit and your body.
Laistrygonians, Cyclops,
wild Poseidon-you won't encounter them
unless you bring them along inside your soul,
unless your soul sets them up in front of you.
Hope your road is a long one.
May there be many summer mornings when,
with what pleasure, what joy,
you enter harbors you're seeing for the first time;
may you stop at Phoenician trading stations
to buy fine things,
mother of pearl and coral, amber and ebony,
sensual perfume of every kind-
as many sensual perfumes as you can;
and may you visit many Egyptian cities
to learn and go on learning from their scholars.
Keep Ithaka always in your mind.
Arriving there is what you're destined for.
But don't hurry the journey at all.
Better if it lasts for years,
so you're old by the time you reach the island,
wealthy with all you've gained on the way,
not expecting Ithaka to make you rich.
Ithaka gave you the marvelous journey.
Without her you wouldn't have set out.
She has nothing left to give you now.
And if you find her poor, Ithaka won't have fooled you.
Wise as you will have become, so full of experience,
you'll have understood by then what these Ithakas mean.
C.P. Cavafy
(Tradução inglesa de Edmund Keeley e Philip Sherrard)
hope your road is a long one,
full of adventure, full of discovery.
Laistrygonians, Cyclops,
angry Poseidon-don't be afraid of them:
you'll never find things like that on your way
as long as you keep your thoughts raised high,
as long as a rare excitement
stirs your spirit and your body.
Laistrygonians, Cyclops,
wild Poseidon-you won't encounter them
unless you bring them along inside your soul,
unless your soul sets them up in front of you.
Hope your road is a long one.
May there be many summer mornings when,
with what pleasure, what joy,
you enter harbors you're seeing for the first time;
may you stop at Phoenician trading stations
to buy fine things,
mother of pearl and coral, amber and ebony,
sensual perfume of every kind-
as many sensual perfumes as you can;
and may you visit many Egyptian cities
to learn and go on learning from their scholars.
Keep Ithaka always in your mind.
Arriving there is what you're destined for.
But don't hurry the journey at all.
Better if it lasts for years,
so you're old by the time you reach the island,
wealthy with all you've gained on the way,
not expecting Ithaka to make you rich.
Ithaka gave you the marvelous journey.
Without her you wouldn't have set out.
She has nothing left to give you now.
And if you find her poor, Ithaka won't have fooled you.
Wise as you will have become, so full of experience,
you'll have understood by then what these Ithakas mean.
C.P. Cavafy
(Tradução inglesa de Edmund Keeley e Philip Sherrard)
14 de março de 2005
Francisco José Viegas (1962)
REGRESSO POR OUTRO RIO
se regressar, será aos teus olhos que regresso.
os acasos ardem nos lábios dos amieiros que na margem do rio
aguardam que regresse. a isso regresso, buscando
coincidências e nomes, razões. afasto-me
provavelmente de ti, embora secretamente.
é por isso estranha a forma como os acasos ardem
para sempre. a outro rio e sob outras sombras
regresso, devagar para não ferir o que antes amei
e por quem morri muitas vezes. agora de novo morro
e por outro rio regresso até ao lugar onde elas, as aves,
nascem para não desaparecerem. e isso é como permanecer.
Francisco José Viegas
.
13 de março de 2005
ABANDONO
A quem senão a ti direi
como estou triste? Mas se a tristeza vem
de tu não estares, como ta direi, como hei-
-de juntar o que me está doendo ao vento
que não bate mais à tua porta? Eu sei
que a tristeza é só isto, é só isto,
o descoincidir consigo mesmo, eu sei,
descoincidir com os outros, estava previsto
porque dentro de si o mundo não coincide e
não há senão tristeza. Em cada um está Cristo
sempre abandonado, cada um abandonado
a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado
promessa de te ter sempre junto a mim
não ausência, nem dor, nem habitado
ser por todo este absurdo. Morrer
um pouco, disse, sem saber o que dizia
pois eram só palavras, como se a prometer
tudo aquilo que havia e não havia.
Não haver palavras és tu a desaparecer.
Bernardo Pinto de Almeida
A quem senão a ti direi
como estou triste? Mas se a tristeza vem
de tu não estares, como ta direi, como hei-
-de juntar o que me está doendo ao vento
que não bate mais à tua porta? Eu sei
que a tristeza é só isto, é só isto,
o descoincidir consigo mesmo, eu sei,
descoincidir com os outros, estava previsto
porque dentro de si o mundo não coincide e
não há senão tristeza. Em cada um está Cristo
sempre abandonado, cada um abandonado
a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado
promessa de te ter sempre junto a mim
não ausência, nem dor, nem habitado
ser por todo este absurdo. Morrer
um pouco, disse, sem saber o que dizia
pois eram só palavras, como se a prometer
tudo aquilo que havia e não havia.
Não haver palavras és tu a desaparecer.
Bernardo Pinto de Almeida
12 de março de 2005
Jack Kerouac (1922-1969)
Peace of Mind
While rollerblading hurriedly through peaceful quiet suburbia,
as is my habit in the prime of spring,
I came to realize what I was made for.
On similar spring skates from years past,
I would think of how much I love suburban innocence and tranquility, and eventually how I once loved suburban innocence and tranquility.
This April 23, however was filled not with joyful rememberance,
but with hope and curiousity about what sort of peace of mind I can obtain.
I'm tired of quiet decomposition and pretended indifference.
Constant hate and dislike.
The time has come to embrace the finer things,
to appreciate the warmth of security and smiles.
The sprinkler does it's whirrrrr, tick-tick-tick-tick.
Jesus, they should make pie flavors with pictures of this on the cover.
I slowed down, enchanted by the artificialy lovely neighborhood.
Skated on past bar-b-que on front lawn of a pretty house.
Men with polo shirts look up from their beer and smile pleasantly.
Moms look over with concern to see that their happiness isn't run over by unruly teenagers.
Boys on 13 inch tired bikes that read 'mud slinger' and 'power rangers' pedal galantly after me.
Girls around 13 smile inocently and wonder if they know my little brother.
The climate's ideal, and so are the people.
Reached a dead end of sorts that looked quiet enough to sit down and give my feet some rest.
7 year old with dark skin pedals thoughtfuly down his drive way.
The Bar-B-que is taking place only a couple of yards away.
He looks over at me with a lonely questioning look,
and as I skate back the way I came, I wonder why he isn't involved in the charred animal flesh consumption.
It could be his skin color, but that seems too petty for such a pleasant place.
Perhaps it's his parent's religious views, their funny accent, or more likely an overwhelming sense of isolation.
It seems that there must be some sort of 'just think pleasant thoughts' conspiracy around here and the standards are slow to change.
As I skate by once more, I look long and hard at the happy suburbanites.
They still looked really content and warm, but I noticed not one of them was anything but white.
What does it matter, I'm white, anyways.
Jack Kerouac
.
Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.
Dylan Thomas
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.
Dylan Thomas
11 de março de 2005
PARA AQUELA QUE MORREU INEXPLICAVELMENTE PORQUE ERA AMADA
Chegaste e eras o ar. Agora sei
Que era já ar o rosto que tiveste,
Pois no oráculo do vento decifrei
Que não és rosa nem ave nem cipreste.
Talvez que a tua aragem no meu braço
Seja o amor que agora eu te mereça.
Mas se adormeço é sempre em teu regaço
Que os anjos me coroam a cabeça.
Talvez seja eu a morta. E tu ao lado
Não tenhas mãos para me abrir a porta
Nem haja porta se te sinto ao lado.
Talvez não sejas tu nem eu nem nada
Enrolada no rasto desta estrela
Que me arrastou na sua queda errada.
Talvez outras areias sem areias;
Talvez um outro Abril sem rosas bravas;
Talvez a direcção das tuas veias
Para a esfinge que não te suspeitavas.
Talvez a que já era antes de ti
Agora nos meus limos afogada.
Mas só porque te olhei e não te vi
Tu vens ao cimo e não me dizes nada.
Natália Correia, Dimensão Encontrada
.n
Chegaste e eras o ar. Agora sei
Que era já ar o rosto que tiveste,
Pois no oráculo do vento decifrei
Que não és rosa nem ave nem cipreste.
Talvez que a tua aragem no meu braço
Seja o amor que agora eu te mereça.
Mas se adormeço é sempre em teu regaço
Que os anjos me coroam a cabeça.
Talvez seja eu a morta. E tu ao lado
Não tenhas mãos para me abrir a porta
Nem haja porta se te sinto ao lado.
Talvez não sejas tu nem eu nem nada
Enrolada no rasto desta estrela
Que me arrastou na sua queda errada.
Talvez outras areias sem areias;
Talvez um outro Abril sem rosas bravas;
Talvez a direcção das tuas veias
Para a esfinge que não te suspeitavas.
Talvez a que já era antes de ti
Agora nos meus limos afogada.
Mas só porque te olhei e não te vi
Tu vens ao cimo e não me dizes nada.
Natália Correia, Dimensão Encontrada
.n
8 de março de 2005
Alberto Caeiro (1889-1915)
(quadro de Né Barros)
XLIII
Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos
7 de março de 2005
Dizes bem:
Ainda não sei continuar o sentido dos gestos.
Ou segredar a transparência dos olhos.
Tento responder,
Tento plantar a infância, a alegria, Deus...
- Mas só conheço o tempo desencontrado.
Tens razão:
Devia saber remendar a memória.
Ou amarrotar a noite.
Tento regressar,
Tento procurar a manhã, a voz, a morada...
- Mas só conheço o rasto da dor inútil.
.
Ainda não sei continuar o sentido dos gestos.
Ou segredar a transparência dos olhos.
Tento responder,
Tento plantar a infância, a alegria, Deus...
- Mas só conheço o tempo desencontrado.
Tens razão:
Devia saber remendar a memória.
Ou amarrotar a noite.
Tento regressar,
Tento procurar a manhã, a voz, a morada...
- Mas só conheço o rasto da dor inútil.
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6 de março de 2005
Elizabeth Barrett Browning (1806-1861)
XLIII
How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.
I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints,--I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life!--and, if God choose,
I shall but love thee better after death.
Elizabeth Barett Browning, Sonnets from the Portuguese
http://www.poets.org/poets/poets.cfm?prmID=153
http://www.victorianweb.org/authors/ebb/ebbio1.html
http://mtmt.essortment.com/elizabethbarret_rysn.htm
Etiquetas:
~ n. 06 de Março,
Elizabeth Barret Browning
5 de março de 2005
Murmúrios do mar
«Paga-me um café e conto-te
a minha vida»
o inverno avançava
nessa tarde em que te ouvi
assaltado por dores
o céu quebrava-se aos disparos
de uma criança muito assustada
que corria
o vento batia-lhe no rosto com violência
a infância inteira
disso me lembro
outra noite cortaste o sono da casa
com frio e medo
apagavas cigarros nas palmas das mãos
e os que te viam choravam
mas tu, não, nunca choraste
por amores que se perdem
os naufrágios são belos
sentimo-nos tão vivos entre as ilhas, acreditas?
E temos saudades desse mar
que derruba primeiro no nosso corpo
tudo o que seremos depois
«Pago-te um café se me contares
o teu amor»
José Tolentino de Mendonça
«Paga-me um café e conto-te
a minha vida»
o inverno avançava
nessa tarde em que te ouvi
assaltado por dores
o céu quebrava-se aos disparos
de uma criança muito assustada
que corria
o vento batia-lhe no rosto com violência
a infância inteira
disso me lembro
outra noite cortaste o sono da casa
com frio e medo
apagavas cigarros nas palmas das mãos
e os que te viam choravam
mas tu, não, nunca choraste
por amores que se perdem
os naufrágios são belos
sentimo-nos tão vivos entre as ilhas, acreditas?
E temos saudades desse mar
que derruba primeiro no nosso corpo
tudo o que seremos depois
«Pago-te um café se me contares
o teu amor»
José Tolentino de Mendonça
2 de março de 2005
Music
Take me by the hand;
it's so easy for you, Angel,
for you are the road
even while being immobile.
You see, I'm scared no one
here will look for me again;
I couldn't make use of
whatever was given,
so they abandoned me.
At first the solitude
charmed me like a prelude,
but so much music wounded me.
Rainer Maria Rilke (tradução inglesa de A. Poulin)
.
Take me by the hand;
it's so easy for you, Angel,
for you are the road
even while being immobile.
You see, I'm scared no one
here will look for me again;
I couldn't make use of
whatever was given,
so they abandoned me.
At first the solitude
charmed me like a prelude,
but so much music wounded me.
Rainer Maria Rilke (tradução inglesa de A. Poulin)
.
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