10 de janeiro de 2006

É nas costas que se sente a perda.
A parte da frente consegue manter as aparências.
Pelo menos, a nossa cara pode encarar-se no espelho. É a nuca que sente a solidão.
Podemos abraçar a barriga e enrolarmo-nos à sua volta. Mas as costas permanecem sozinhas.
É por isso que as sereias e os djinns são retratados com as costas ocas -- jamais alguém lhes encosta uma barriga quente. Em vez disso, é ali que trabalha o cinzel de escultor da solidão.
Não se encontra a solidão. Ela vem por detrás e acerta o passo pelo nosso.

SVEN LINDQVIST. «Exterminem todas as bestas».

3 comentários:

João Villalobos disse...

Fantástico fragmento!
Obrigado pela partilha

ogatoqueri disse...

...

ogatoqueri disse...

"My daughter-in-law had a son on 15 March [2006]. The baby was perfectly formed in every way, with a beautiful face, except the rest of the head was missing, the baby was dead"

Shahida Bee - sobrevivente, assim como a nora, de um "acidente" envolvendo uma fábrica de químicos pertença da Union Carbide (mais tarde comprada pela Dow Chemical)