7 de janeiro de 2006


Helder Moura Pereira (1949)



Tal como Emily Dickinson
tenho muito frio a escrever.
Mas tomara eu ser como Emily Dickinson,
tomara eu ser.

Só tenho vivido em cidades
onde nem sequer há tempestades
quanto mais tempestades
como aquelas que Emily Dickinson descrevia.

Sabia bem como a terra tem idades
e repetições com as mesmas qualidades:
a força do vento, o chumbo da água, maldades —
mas são maldades vitais, Deus não dormia.

Falarei de quê, da vida rasgada?
Ousarei o quê dentro da minha apatia?
Dizer que descrevo a lareira apagada
e que há um círculo quadrado na minha geometria
não pode interessar à verdadeira poesia.


Helder Moura Pereira, A Tua Cara Não Me É Estranha

4 comentários:

João Villalobos disse...

Boa noite, Graça
Muito obrigada pela visita, pelo comentário e pelo lomk, que vamos retribuir :)
1 abraço e os parabéns pelo seu blogue, límpido e com uma selecção de bons textos e poemas. Até breve.

Mito disse...

Tal como o capitão Scott
Meus dedos gelam a escrever
Quem me dera ser como a Graça
E numa ilha amena viver

Mito

Mito disse...

Tal como o capitão Scott
Meus dedos gelam a escrever
Quem me dera ser como a Graça
E numa ilha amena viver

Mito

Graça disse...

Bem, Mito, cada um tem o que merece - ou o que escolhe... ;)
De qualquer forma, o bom Deus, sempre clemente e compassivo, tem-te aplacado as saudades com umas experienciazitas telúricas, com alguma imaginação,quase te sentes nesta "ilha amena"...
De qualquer modo, gostei de me sentir Calypso por instantes.