19 de janeiro de 2006


Eugénio de Andrade (1923-2005)



Encostas a face à melancolia e nem sequer
ouves o rouxinol. Ou é a cotovia?
Suportas mal o ar, dividido
entre a fidelidade que deves

à terra de tua mãe e ao quase branco
azul onde a ave se perde.
A música, chamemos-lhe assim,
foi sempre a tua ferida, mas também

foi sobre as dunas a exaltação.
Não oiças o rouxinol. Ou a cotovia.
É dentro de ti
que toda a música é ave.

Eugénio de Andrade, Branco no Branco

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2 comentários:

Mito disse...

Um poema de um (ELE)génio é como uma pedra preciosa que só poderia ter nascido do Fogo da Terra e lapidada pelos deuses. Contemplar todas as reverberações de luz numa gota de orvalho não contém mais verdade.

Graça disse...

Bem, Mito, se prometeres comentários desta natureza a cada poema de ELEgénio de Andrade, faço-o nascer dia sim, dia não...